Informações, Orientações, Crônicas e Bate-Papo sobre Odontologia, a Saúde Bucal e o Ser Humano

Dr. Nilson Denari, Dra.Mônica Denari Piffer, Dra. Marly Simões,Dr. Marcos Denari, Dr. Renê Van der Laan, Dr. Rodrigo Nogueira

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Cárie - Perguntas Freqüentes

A cárie é transmissível?
Sim, mas não é a cárie que passa de uma pessoa para outra e sim as bactérias que causam a cárie. A cárie é uma doença causada por bactérias que são transmitidas através da saliva geralmente por pessoas próximas. A transmissão geralmente ocorre de mãe para filho, de avós ou babás para as crianças, entre casais, entre irmãos e entre amigos. Porém só transmite bactérias de cárie, quem tem cárie.

Como ocorre a cárie?
Para um dente ter cárie, é necessário que bactérias que causam a cárie e o açúcar (ou outro carboidrato) grudem neste dente. Quando isto ocorre forma-se uma massa (chamada placa dental ou placa bacteriana) sobre o dente, onde as bactérias se multiplicam e transformam o açúcar em ácido. Este ácido faz com que partículas do dente se dissolvam iniciando o processo da cárie (chamado de desmineralização do esmalte). Se esta placa bacteriana não é removida e ocorrem repetidas ingestões de açúcar, a produção de ácido e a perda de mineral continuam até formar um buraco, uma cavidade popularmente chamada de cárie.

Porque o açúcar causa cárie?
O açúcar e todos os carboidratos, quando entram em contato com bactérias da boca que causam a cárie, transformam-se em ácido, e este ácido vai provocar a perda de minerais do dente. Outro problema do açúcar é que ele gruda no dente e também propicia uma condição de maior aderência de bactérias ao dente fazendo com que o ácido que elas produzem atinjam o dente por mais tempo.

Então não posso comer açúcar?
Em condições normais, ou seja, quando as estruturas dos dentes estão íntegras, qualquer pessoa pode ingerir açúcar ou carboidrato por até 5 vezes por dia que não irá desenvolver cárie.

Tem outras coisas além do açúcar que podem prejudicar meus dentes?
Além do açúcar, devemos ter cuidado com todos os carboidratos como pães e bolachas (doces ou salgadas), e ainda os salgadinhos empacotados (batatinhas, chisitos, fandango,...),além de xaropes, leite em pó, etc...
Além disso devemos levar em consideração a saúde geral do paciente, o tipo de saliva, o fluxo de saliva, a higiene oral, a respiração bucal e o sistema imunológico.

Porque tanta gente come açúcar e não tem cárie?
Primeiro é necessário se avaliar de que forma esta pessoa ingere açúcar. Para causar cárie em um dente íntegro, o açúcar deve ser ingerido mais do que 5 vezes ao dia, por um longo tempo. Isto porque, espaçando as ingestões de açúcar, a saliva tem tempo para neutralizar os ácidos e a boca voltar ao seu equilíbrio. Além disso outros fatores devem ser levados em conta como por exemplo a higiene oral, a saliva, a respiração e o sistema imunológico . Sem se esquecer do uso do flúor presente nas pastas de dente e e na água encanada que deixa o dente mais difícil de se desmineralizar.

Quanto tempo leva para um dente íntegro ter cárie?
Este tempo pode variar entre 3 meses e 2 anos. Depende da quantidade de vezes que a pessoa esteja ingerindo açúcar, do tipo de açúcar, da higiene oral, da saliva, da respiração bucal, e do sistema imunológico.

Leite Materno pode causar cárie?
Em um dente íntegro, não. Porém é bastante comum os dentes de leite nascerem com defeito de formação e não apresentarem todo o esmalte íntegro, expondo sua parte interna (dentina) Se a parte interna do dente estiver exposta, a cárie vai progredir em contato com o leite materno.

Os dentes de leite do meu filho já nasceram com cárie, por que?
Nenhum dente nasce com cárie. O dente pode sim nascer com um defeito de formação no esmalte e desta forma, a parte interna do dente (chamada dentina) ficar exposta. Esta parte interna do dente é pouco resistente e acaba tendo cárie com mais facilidade. Portanto, assim que se detectar este problema os cuidados preventivos devem ser mais rigorosos e o dente deve ser restaurado.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O Fluor - Perguntas e Respostas

Porque o Flúor é importante?
Mundialmente o flúor é apontado como o grande responsável pela queda no índice de cárie. Para se ter uma idéia, antes de termos flúor na água de Santos as crianças tinham em média 8,9 dentes com cárie aos 12 anos de idade. A partir do uso do flúor, em 12 anos, este índice caiu para 1,7 dentes com cárie.O flúor dificulta o processo de perda de mineral de dente e acelera a reposição de mineral no dente que sofre ataque dos ácidos pelo açúcar.

De que forma os dentes recebem flúor?
O flúor chega às pessoas através da água de abastecimento, das pastas dentais, ou por aplicação do dentista. Vitaminas e comprimidos com flúor são proibidos de serem comercializados em cidades que contenham flúor na água de abastecimento e não devem ser dados às crianças.

Com que idade meu filho pode receber Flúor?
A partir do nascimento do primeiro dente todas as crianças devem começar a receber flúor. Porém a forma de aplicação e a dosagem precisam ser calculadas pelo dentista porque o flúor ingerido em excesso, dependendo da idade e do peso da criança poderá causar o que chamamos Fluorose nos dentes permanentes que ainda não nasceram.

O que é fluorose?
A fluorose, em sua forma branda, se caracteriza por manchas brancas no esmalte dos dentes permanentes. A fluorose ocorre quando crianças ingerem mais Flúor do que o recomendado. Este flúor em excesso irá se depositar no dente que está se formando, ou seja, no dente que ainda não nasceu, alterando a sua estrutura conforme a quantidade de flúor ingerido. Quanto mais flúor for ingerido, maior a alteração de estrutura que o dente pode sofrer.

Quais os cuidados devemos ter com o Flúor?
Antes de mais nada identificar de que forma a criança pode estar recebendo flúor. A forma mais comum é o flúor presente na rede de abastecimento público. Para se ter uma idéia, uma criança com 6 meses de idade, pesando 8 Kgs, não pode ingerir mais do que 3 mamadeiras de 250 ml de leite em pó dissolvido em água filtrada (de abastecimento público) que já passa a correr o risco de ter os dentes com fluorose. Se a água fosse engarrafada e com pouca quantidade de flúor em sua composição (Lyndoya por exemplo) esta criança poderia tomar até 15 mamadeiras por dia. Porém esta mesma criança, se não tomasse água com flúor, poderia escovar os dentes duas vezes por dia com pasta infantil com flúor, que mesmo ingerindo toda a pasta que não teria fluorose no futuro. O ideal é que o dentista possa avaliar individualmente cada caso para receitar corretamente de que forma a criança deva receber flúor.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Desenvolvimento de um Belo Sorriso

Atualmente encontramos muitos problemas no desenvolvimento dos maxilares e das arcadas dentarias. Como os maxilares compõe dois terços da face, qualquer prejuízo no seu desenvolvimento irá ter conseqüências negativas na estética da face. Já nas arcadas o problema mais comum é a falta de espaço para o correto alinhamento dos dentes, o que vai afetar na estética do sorriso. Ora, sabemos que um rosto bonito e harmônico, com um belo sorriso, fazem uma grande diferença na qualidade de vida de uma pessoa. Como dizem, o sorriso é o seu cartão de visitas! É com a boca que nos comunicamos com o mundo, o rosto expressa os nossos sentimentos e o sorriso cativa as pessoas. E a origem destes problemas de desenvolvimento dos maxilares ocorre nos primeiros anos de vida com a falta de estímulos adequados.
Vejamos primeiro como deveria ser o desenvolvimento normal. Nos bebês os ossos maxilares, onde se encontram as arcadas dentárias, tem um crescimento muito rápido, intenso e são muito maleáveis. Por isso sofrem uma grande influência positiva dos estímulos que vem da amamentação e da mastigação. Então quanto melhor a qualidade destas funções orofaciais, melhor o desenvolvimento dos maxilares daquela criança.
O problema é que, muitas vezes por causa da vida agitada que as mães tem e por falta de orientação, fica mais prático, mais cômodo dar mamadeira e alimentos moles e pastosos, que não estimulam o desenvolvimento correto.
Vamos ver como cada uma dessas funções orofaciais atuam no desenvolvimento das arcadas e dos maxilares:

AMAMENTAÇÃO

A amamentação é vital para o desenvolvimento do bebê. Ao sugar o peito materno, além do leite, o bebê recebe inúmeros estímulos de desenvolvimento, tanto físico quanto psicológico. No aspecto físico ele executa um grande esforço muscular para obter o leite do peito aumentando assim as taxas de crescimento ósseo dos maxilares.
Se ele for alimentado com mamadeira todo o comportamento muscular se altera, o que pode implicar em problemas no desenvolvimento dos maxilares e das arcadas dentárias.
As mães devem amamentar seus filhos durante pelo menos um ano, mas, de acordo com a OMS, o ideal é amamentar durante dois anos. Este é também o tempo em que o sistema imunológico de defesa do bebê leva para amadurecer. Significa que o bebê que se alimenta do leito materno terá menos doenças do que aquele que usa mamadeira.

MASTIGAÇÃO

Vamos falar agora dos estímulos de desenvolvimento que vem da mastigação. A mastigação é a principal função para a qual a boca foi desenhada. Durante a mastigação vários músculos colocam os maxilares e dentes em movimento para cortar, triturar e moer os alimentos, e isto aumenta a taxa de crescimento ósseo dos maxilares e das arcadas. Os maxilares se harmonizam e as arcadas desenvolvem espaço para o alinhamento correto dos dentes. Porém, o bebê não nasce sabendo mastigar e para aprender precisa de alimentos que precisem ser mastigados, ou seja, cortados, triturados e moídos com os dentes. Então, por volta dos seis meses, quando nascem os primeiros dentes de leite, devemos oferecer alimentos adequados para este aprendizado. Papinhas, sopinhas, alimentos batidos no liquidificador ou passados na peneira não precisam ser nem cortados, nem triturados e nem moídos. Ou seja, não precisam do esforço dos músculos que movimentam maxilares, arcadas e dentes para a mastigação. Assim o bebê perde uma importante quantidade de estímulos de desenvolvimento.
Em geral os pediatras recomendam que se comece com alimentos pastosos ou amassados, porém esta fase deve ser curta e rapidamente sendo substituída por alimentos em pedaços maiores. É recomendável que se ofereça ao bebê a mesma comida que a família come à mesa como: arroz, feijão, carne, legumes e frutas. Quando os pais forem a uma pizzaria podem dar na mão do bebê uma borda de pizza, num churrasco um pedaço de carne (grande o suficiente para ele se divertir por muito tempo e não se engasgar), e na praia ou parque um sabugo de milho verde. Além de treinar a mastigação ele aprende a apreciar os diferentes sabores e consistências dos alimentos ajudando para que no futuro ele tenha uma alimentação variada e saudável.

RESPIRAÇÃO

Outro problema sério que afeta o desenvolvimento dos maxilares é a respiração bucal crônica. Esta alteração respiratória provoca uma total mudança do comportamento muscular na face. Os lábios permanecem abertos e se instala uma flacidez muscular generalizada. A língua muda a sua posição e começa a funcionar inadequadamente, o que pode provocar deglutição atípica e problemas fonéticos. A face do respirador bucal em geral é alongada, os dentes mal posicionados e apresenta olheiras. Ele come mal porque olfato e gustação ficam prejudicados e precisa respirar pelo mesmo espaço onde está a comida. A natureza justamente separou os compartimentos da respiração e da mastigação para que uma não atrapalhe a outra.
Para entendermos porque uma criança passa a ser uma respiradora bucal temos que voltar para a época do nascimento e aos primeiros anos de vida. Ao nascimento o bebê sempre respira pelo nariz. Só que o registro cerebral de que esta é a forma correta de respirar e que, para isto, os lábios precisam permanecer fechados ainda não está maduro e precisa de muitos reforços nesta fase inicial da vida. Este reforço vem justamente dos estímulos funcionais dos músculos da face. Novamente a amamentação e a mastigação desempenhando um papel importante, agora no estabelecimento de uma função respiratória adequada.
Então, resumindo, a palavra chave para o desenvolvimento adequado dos maxilares é ESTIMULO. Assim como o atleta desenvolve seu físico através de exercícios e treino muscular, devemos estimular o desenvolvimento dos músculos faciais dos nossos bebês exercitando as funções que a natureza nos deu: AMAMENTAÇÃO E MASTIGAÇÃO.
Assim fica fácil compreender que podemos ajudar os nossos filhos a desenvolver UM BELO SORRISO!

domingo, 8 de junho de 2008

Sabedoria Infantil

Por Nilson Denari

É comum, na Clínica, ouvir choro de criança. Se ainda hoje há adulto com medo de dentista, imagine uma criança, principalmente aquela de pais medrosos, imaturos. É “hereditário”.
Mas, aquele choro naquela manhã, vindo lá da sala de meu sobrinho Marcos, era diferente. Não me parecia ser de medo, de pânico pelo desconhecido ou, erroneamente conhecido; era de raiva sim, berros de revolta.
Como ando neste momento da minha vida, perdendo o medo de saber os ‘porquês’ das coisas que me circundam e me interessam, vou fundo em qualquer pequeno detalhe que me chame a atenção, seja uma simples frase musical ou mesmo um choro esquisito de criança. Assim logo que pude, fui até lá. Quando entrei na sala, não havia choro. Sorrateiramente, meio por trás da porta, pude ouvir e observar o cenário: sentada, mas afastada do encosto da cadeira, uma linda criança beirando os seus três aninhos, em uma posição de profunda atenção, ouvia o que estava sendo esclarecido, nos seus mínimos detalhes, por sua mãe, postada aos pés da cadeira.
Uma babá, em pé, com as duas mãos no encosto de cabeça, da cadeira esperava ordens. De cada lado da menina, meu sobrinho e sua auxiliar aguardavam, pacientemente, o momento de começar a atuar.
“Então, filhinha, como a mamãe disse, há um bichinho mordendo seu dentinho, é por isso que está doendo. Já faz três noites que ele fica comendo seu dentinho, fazendo o buraquinho que eu lhe mostrei. E é por isso que dói, você chora há três noites e ninguém consegue dormir naquela casa. O Tio Marcos vai tirar esse bichinho daí. O Tio Marcos e a mocinha vão tomar conta dele, para que nunca mais ele judie de você. Fique bem quietinha que não vai doer nada. Agora deixe o tio Marcos e a mocinha trabalharem.”
A criança se mantinha atenta às explicações da mãe, até o momento em que tentaram novamente colocá-la em posição para iniciar o tratamento. Acabou a paz, tudo voltou ao que era antes: berros e gritaria.
Esse é o grande momento terapêutico. A menina já sabia, graças às experiências passadas, que nada como um belo choro de criança para amolecer os corações dos adultos.
Essa é a hora mais importante de toda a relação dentista e jovem paciente a de se mostrar a verdade. Sabia eu, que a partir do momento em que essa criança, ao conhecer as novas práticas clínicas odontológicas no atendimento infantil, iria saber da verdade, se livraria dos fantasmas, poderia se tranqüilizar e adotar uma outra postura diante do dentista, e com isso, torna-se uma excelente paciente. Era para nós rotina ouvir dessas crianças, ao se tornarem adultas, que passavam do atendimento com o Dr. Walter Denari para o nosso atendimento, esclarecerem: “Se o senhor acha que vai doer, pode anestesiar, por favor”. É mole?
Isso é o que mostrou a nossa maravilhosa vivência de mais de cinqüenta anos e essa experiência ele ensinou para o seu filho e por todo esse mundo afora.
Mas, voltemos ao nosso caso. A verdade, nesse exato momento é que existia uma lesão cariosa a ser removida e um dente a ser restaurado. Precisavamos anestesiar corretamente e sem trauma doloroso, efetuar o tratamento.
Com a criança imobilizada pela mãe, babá e auxiliar, o Tio Marcos se aproximou. Nesse momento, fez-se silêncio.
Pensei: “Será que uma guerreira como essa acreditou nesses inocentes argumentos e desistiu de lutar? Vencida só por essa força? Aonde foram parar suas aguerridas concepções?” Eu não acreditava no que estava vendo. “Que pena.”, pensei.
Ledo engano. Em segundos, de espada em punho, ela desferiu seu golpe mortal, em todos aqueles que pensavam que a batalha havia terminado. Começou a agitar as perninhas bradando; “Qué cocô, qué cocô !”, balançando as perninhas.
A babá confirmou: “Ela quer fazer cocô.”.
Olhares incrédulos se cruzaram por toda a sala. “Ela quer fazer cocô”, ouviu-se novamente.
Diante de tão forte argumento, o cenário se desfez e quando a estrela maior passou a minha frente, tive vontade de beijá-la.
O silêncio se perpetuou por mais 10 minutos, até o seu retorno. Ao passar por mim, ansioso de curiosidade, perguntei à babá: “Ela fez cocô?” “Que nada.” foi a resposta.
Eufórico, por ter vivido essa experiência de participar e por ter tido a oportunidade de conhecer um ser humano, que luta até o fim, na defesa do que acredita, e mais, ter a capacidade de, ao entender a força de seus inimigos, bate em retirada, não para fugir, mas para buscar fôlegos e novas estratégias para voltar à luta, vibrei.
Correndo e saltando de alegria, voltei ao meu consultório, igual Pelé ao fazer um gol de placa.
Quando lá cheguei, o momento, então não era mais de ansiedade em conhecer ‘os porquês’, mas sim, foi um momento de êxtase total por ouvir novamente aquele canto estridente, um brado de guerra, na voz de uma soprano de dar inveja à Bidu Sayão. Nilson Denari: nilsondenari@cmg.com.br

CLÍNICA DENARI 45 ANOS

Sua História

Por Nilson Denari

“Não vá fazer Odontologia”, disse meu pai em meados de 1950. É uma profissão desgastante, você vai trabalhar em pé ao longo da sua vida.E o pior, se não estiver no con- sultório todos os dias, ali, na boca do paciente, não vai ganhar nada.Já que você vai para
Ribeirão Preto e a faculdade é de Farmácia e Odontologia, faça Farmácia.Desse modo você
Poderá viajar e a farmácia continuará rendendo.”
Assim pensava o Dr. Antenor Denari, dentista há quase 25 anos.Eu assistia a sua luta das sete da manhã às dez horas da noite, todos os dias exceto aos domingos, em seu consultório instalado na parte da frente de nossa casa, em Sorocaba, rua Hermelindo Matarazzo nº 32, onde nasci.Nessa época, eu estava com meus imberbes 18 anos . O conselho havia chegado tarde demais: três anos após, no dia 13 de dezembro de 1953, aos 21 anos, eu recebia meu canudo de Cirurgião Dentista na inesquecível Ribeirão Preto. Não adiantou a palavra do “velho”, a Odontologia já havia sido amor à primeira vista. Como também foi, após 8 meses de Sorocaba, vir trabalhar em Santos. Rua Vasconcelos Tavares nº19, 5º andar, sala cujo número não mais me recordo. O consultório era alugado e apesar de ser um ilustre desconhecido, esnobei: era dentista na cidade, no centro, o coração de Santos na época. No princípio meus heróicos pacientes foram os amigos de futebol de praia no Gonzaga e seus familiares, que salvavam o aluguel e as despesas. Quando não conseguia salda-las era salvo pelas “mordidinhas”financeiras na Dona Maria, minha mãe, sempre com promessa de resgata-las, o que nunca cumpri. Vibrei com esse mundo novo: eu tinha MEUS pacientes e alguns até me chamavam de “doutor”.
Com os amigos e colegas – Edmar, meu confidente; Barbosa, meu guru; o filósofo Dalton; o irrequieto Herculano; Maurity, meu eterno amigo e irmão e tantos outros, varei noites discutindo problemas e casos, jogando conversa e gabolices fora. E assim foi, de 1954 a 1961. Nessa época, já casado com Maria Helena, era pai de uma filha, Mônica.
Oito anos após, de tanto encontrar pacientes indo para a cidade de ônibus ou de bonde, deslocando-se de suas casas na praia em direção ao meu consultório - então na rua Amador Bueno nº 26, Edifício Concórdia – já enfrentando uma cidade de trânsito congestionado, decidi que eles não mais teriam que deslocar-se tanto. Optei por levar meu até eles, monta-lo na região da praia. Meus amigos falavam que eu estava ficando louco. “Sair da cidade para ser dentista de bairro? Você vai perder a fina flor da sua clientela” – profetizaram. Além disso, quis fazer uma sociedade com meu irmão Walter, outro “louco”, pioneiro em seu aperfeiçoamento no tratamento para crianças, Odontopediatria. Eu ouvia: “”Fazer sociedade não é bom; com família é pior ainda”. Mais uma vez o conselho chegou tarde demais. Eu já estava apaixonado pela idéia e pelo imóvel na rua Galeão Carvalhal nº52, cuja propietária, Dona Isabel, após o endosso de Carminho e Paulo Magalhães (o cara de bravo e coração de ouro), acreditou por bem alugar-nos.
Foi tudo maravilhoso. Começamos juntos, aumentamos nosso círculo social, conhecemos amigos. Os filhos já eram mais três: Eduardo, Luciano e Marcelo.
Nessa época o mundo estava mudando seus costumes, hábitos e vestes. Procurava-se mais praticiddade. Os ônibus substituíam os bondes; os apartamentos substituíam as casas. Popularizavam a calça Lee, a bermuda e a camisa esporte. Desapareciam as anáguas, as perucas, as cinturitas. A cidade deslocava-se para a praia congestionando agora a orla marítima, principalmente o Gonzaga.
Por este motivo, em 1975, decidimos, Walter e eu, ir para um local onde os pacientes tivessem mais facilidade para estacionar. Resolvemos procurar uma casa grande onde pudessem trabalhar também colegas, assistentes ou colegas de outras especialidades; um trabalho em equipe multidisciplinar em Odontologia o que seria mais proveitoso e produtivo.
Assim pensamos e assim realizamos. Sob a áurea do Dr. Leôncio Rezende, alugamos a casa onde viveu até seus últimos dias: Avenida Washington nº464. Nessa época já tínhamos um protético, o sergipano Elinaldo, cheio de vida e conversa. A ele juntaram-se Marly (a ‘filha’ colinense), a quem fui buscar em Ribeirão Preto no dia de sua formatura; Ronaldo, um santista e cria nossa de longo tempo e o meu amigo-irmão de idéias simbióticas, José Antônio. Em 1975, se concretizava o sonho da Clínica.
Com a morte de meu pai herdamos a casa em que morávamos ao chegar de Sorocaba. É o nº 408 da mesma avenida. Terezinha Kannebley, corretora amiga, colaborou para a compra da casa ao lado, o nº 406 e assim, em 1981, a Clínica Dentre tinha seu imóvel próprio. Reformamos e unimos as duas casas em uma só para que ficasse mais funcional.
Como a antiga clínica e a nova casa eram próximas, praticamente apenas uma quadra, a mudança foi quase toda feita ‘no braço’. Todos colaboraram, carregando objetos pela avenida abaixo, sempre muito entusiasmados com o novo local, mas também assustados pelo novo investimento. “Não seria ele muito grande? E as despesas?”
Hoje, passados 17 anos, sabemos que não foi. Crescemos, e muito. Orgulhamo-nos da Clínica pelo reconhecimento de nossos pacientes – e pelo nosso esforço e dedicação ao sonho de podermos exercer a profissão ‘gostosamente’.
Do nosso sangue juntaram-se a nós a minha linda filha Mônica e o dedicado sobrinho Marcos, filho do Walter. Juntaram-se também o ex-patrulheiro João, hoje meu ‘filho protético’, de quem muito me orgulho e seu irmão Leone. Integrando também nossa filosofia de trabalho, está ainda o corpo auxiliar - nosso jardim - capitaneado por Rosana (charmosíssima), auxiliada pela ‘formiguinha’ Penha. Temos a paciente e eficiente Rosângela na recepção e todas as demais companheiras de trabalho, sorridentes no “bom dia”e às demais companheiras de trabalho, sorridentes no “bom dia” e às minhas recomendações para os finais de semana.
Agradeço a Deus o envio de Ewa, amiga e esposa que mobilizou em mim, quando a conheci, o impulso de mandar colocar uma faixa nas árvores em frente a Faculdade de Filosofia onde ela lecionava na época, com os dizeres:”Nem nos tempos de Adão, nem nos tempos que virão, terão por uma Ewa tanta paixão...”.
Agradeço a Ele ter-me mostrado as diretrizes da Psicologia para melhor conhecer minhas limitações e reais necessidades – as minhas e as dos outros, fossem amigos ou pacientes, todos apaixonantes e inesquecíveis.
Aos amigos Oswaldo, Luiz, João Carlos e Lamartine, nosso “Clube do Bolinha”, por tantos caminhos percorridos; e também ao Damico por suas palavras.
Graças também aos grupos de estudo de Odontologia e Psicologia dos quais participo ou participei; para mim, mais úteis que quaisquer congressos ou cursos assistidos ao longo desses 45 anos de profissão
Hoje estamos trilhando o nosso caminho. A Clínica, com seus sete profissionais mais o corpo de assistentes, doze jovens, segue em busca de uma felicidade e de uma alegria de viver que fecham o elo do melhor remédio contra todas as doenças: o amor.
Agradeço a Deus, mais uma vez, por ter-nos guiado até Santos, ao calor afetuoso de seu povo para conosco, forasteiros, que aqui chegamos certos de bom solo a receber as sementes dos nossos anseios.
Enfim, obrigado meu Deus pela Sua eterna companhia.

P.S. Desculpem-me a ausência escrita daqueles que estão em nossos corações, mas que a memória vacilou pela emoção.